20º Dia - Perdi a hora, a coroa e achei um Capixaba!

Olá pessoal!

Encontro-me em um Hostal na Cidade de Sahagún, onde cheguei por volta das 15 horas. São agora 18h23m. Já cumprido todo o ritual de chegada às cidades...lavar roupas, tratar feridas, procurar víveres para o dia seguinte... Já estou craque!

Meu dia começou tarde desta vez.
Após um jantar na noite anterior, em restaurante em Carrion na companhia dos casais Ayres e Elimar e de espanhóis, onde pude provar a bebida típica do norte - pacharan - (um licor feito com uma fruta), fui me recolher para  uma noite no Mosteiro de Santa Clara, tendo como companhia energias de paredes do século XIII e tendo como vizinhos as freiras enclausuradas.

 

Meu prato - truta e batatas

 

Pastel das Freiras do Mosteiro - delicia!

 

Jantar em Carrion

 

Pacharan - bebida tipica, e forte!!

Pela manha, após uma noite tendo a sensação de ouvir murmúrios das freiras enclausuradas, acordei olhando como sempre as horas. Me assustei com a hora: 06 e 43!!! não é possível!!! Saltei da cama derrubando tudo em cima da mesinha de cabeceira. Me arrumei em menos de 15 minutos. Às 7:03 já estava na rua. Chovia, chovia e muito! Conforme já estava previsto..

 Parei no primeiro bar que se apresentou aberto. E nesta cidade, contrariando as outras, existia uma concorrência de bares oferecendo os desayunos. Entrei e fui logo pedindo meu café com leite e croissant (que tinha). Sentei e comecei a comer. Ao terminar, senti que algo estava bizarro em minha boca. Constatei estarrecida que havia engolido...  a minha coroa!!! E agora?? respirei fundo... calma Isabelle, muita calma nesta hora! bebi um pouco de água... pensei em três soluções:

1) Encontrar na próxima parada um hotel para caçar a peça (não vou contar detalhes. Me recuso!!);
2) Entrar em contato com meu dentista para ele enviar com Joaquim (que chega dia 30) um provisório;
3) Deixar como estava mesmo.

Era uma coroa do fundo. Apenas não poderia dar gargalhadas. Apenas sorrisos estilo Mona Lisa seriam permitidos...

Chove em Carrion



Feito isso e restabelecida (mais ou menos, o que mais vai acontecer? deste jeito em que condições chegarei em Santiago?), coloquei o pé no Caminho.

E neste dia, reutilizei a capa camelo! Que trabalho para colocar e tirar (ufa!). Uma peregrina me pedia socorro com a sua. Ajudei-a.

O Caminho prometia ser duro hoje. Além da chuva, a próxima cidade somente seria depois de 17 kilometros de Carrion. E essas distâncias são complicadas! Sem apoio, poucos bancos (ou nenhum), e NENHUM BANHEIRO!

  E logo hoje que não podia, sentia uma leve vontade de... evacuar...

Tenho que andar, andar, andar e andar.

Dia muito chuvoso!



 

14km de reta

Começava a sentir uma forte dor nos pés quando bem longe avistei um banco! benção!

Sentei aliviada, com os pés dentro de uma grande poça d'agua. Não ligava mais pra nada! queria me sentar! estava exausta! Abaixei minha cabeça, fechei meus olhos e devo ter ficado uns 10 minutos somente escutando os pingos de chuva caírem na minha capa camelo.

Que situação...

Bom, tinha que continuar pois teria que chegar em algum lugar! Vários peregrinos estavam no Caminho hoje. Aliás, desde o inicio do feriadão, vários peregrinos espanhóis estavam no Caminho. Me falaram em um albergue que muitos espanhóis fazem o Caminho na Semana Santa e que Caminho e Albergues ficam cheios.

Recomecei a andar sempre mirando o peregrino que estava lá na frente para ver quando ele iria desaparecer. E não desaparecia nunca! O Caminho hoje estava loooooongo!

Depois de mais algum tempo que não saberia precisar quanto, pois no Caminho não se conta o tempo, avistei longe um telhado. Chegando, vi que se tratava de um refúgio! legal!

 

Bendito refúgio!

Sentei-me com outros peregrinos e, ao lado, um senhor servia café e leite quentes. Pedi o meu. Cairia muito bem naquela chuva! Quando fui pagar ele me explicou que era gratuito! O peregrino poderia dar o que quisesse. Dei 1 euro. Achei muito simpático o gesto! Perguntei quantos km faltavam para chegar a próxima cidade. 5 km...

E recomecei o Caminho.

Andei, andei, andei, até avistar uma torre de Igreja. Miragem? não, era finalmente a cidade Calzadilla de la Cueza chegando.

 Cidade pequena de 57 habitantes. Mas tinha um restaurante aberto a 50 mts. Parecia vazio mas pude perceber que de dentro saiam alguns peregrinos. Fui com tudo! Quando entrei observei um clima de euforia geral de peregrinos, indo aos banheiros, comendo, bebendo. Era uma festa!!! Todos com cara de cheguei! Vocês sabem o que é uma cara de cheguei? Vou tentar enviar uma foto pra vocês verem!
Resolvi almoçar. Passava de 12 horas. Olhando os pratos combinados, nenhum me interessava. Olhei para o garçom e perguntei se em um dos pratos poderia acrescentar uma posta de peixe. Olhou para mim e gritou: BRASILEIRA!!!! ehh, sim! aproveitei... Aí não deu outra! atendimento VIP com foto e tudo.

Chegada em Calzadilla de la Cueza



  Bom, é claro que fiz as perguntas de todo curioso. Seu nome é Charles e pasmem!!! nasceu no Espírito Santo! Onde moro no Brasil. No município de Montanha.

O simpático Charles do Restaurante Caminho Real



O que está fazendo aqui no Caminho? Desde pequeno viaja muito: de Montanha foi pra Guarulhos, Rondônia e acabou ali. Estava faziam 4 anos.

Bom, no final de tudo e olhando o tempo que faltava e minhas condições físicas, perguntei ao Charles se na próxima cidade havia um hotel. Não. Somente em Sahagun. Me arruma um táxi então. Vou dormir em Sahagun. Neste momento adentra no recinto o casal, aquele sim... Elimar e Ayres.

Tomamos uma cerveja juntos e meu táxi chegou. Nos despedimos todos à moda brasileira: com beijos e gritos!

E cheguei em Sahagún. é uma cidade de 2399 almas, a primeira da província de León. Um pouco confusa mas simpática.

E chove muiiiittooooooooo!

 

Meu hostal de hoje

Beijos a todos! e até amanhã!

Ultreya!
Isabelle

    

Arco de San Benito e Igreja de la Trinidad Sec XII